Os líderes estão cada vez mais conscientes dos impactos da solidão.
Todo mundo se sente solitário às vezes. Em termos gerais, é um sentimento subjetivo de estar isolado ou desconectado dos outros, mesmo quando cercado por pessoas. Como o bem-estar no local de trabalho é um fator crítico para a colaboração dos funcionários e o desempenho geral, a questão da solidão pode ser um obstáculo significativo para a liderança.
Georgina Watson lidera a empresa The Human Network. Trata-se de uma comunidade composta por 40 líderes empresariais e psicólogos de 14 países, unidos pela paixão por transformar a experiência humana no ambiente de trabalho. A vasta experiência de Georgina em RH e saúde mental em grandes empresas tem viabilizado a criação de estratégias de bem-estar voltadas para a saúde psicológica, a mudança de mentalidade e o fortalecimento da resiliência.
Jo Mortimer, nossa consultora na Prática de Pessoas & Cultura em UK, conversou com Georgina para explorar as potenciais implicações da solidão para os negócios e os pontos de atenção que os líderes devem ter em mente.
Parece pertinente discutir esse tópico em janeiro, o mês mais solitário?
Esse é o pensamento amplamente difundido, embora eu argumente que a solidão atravessa a época do ano, a geração e a senioridade. É paradoxal que, apesar do crescimento populacional e do aumento das oportunidades de conexão, a solidão esteja se tornando cada vez mais prevalente, tanto no ambiente de trabalho quanto fora dele.
No Reino Unido, 36% das pessoas se sentem mais solitárias agora do que antes da pandemia. Uma pesquisa de 2023 revelou que 85% dos adultos do Reino Unido experimentaram solidão nos últimos 12 meses. 1 em cada 5 funcionários em todo o mundo atualmente se sente solitário no trabalho, com metade dos CEOs também relatando sentir-se solitário.
Em 2023, a Organização Mundial da Saúde declarou que a solidão é uma questão global urgente. Em resposta, a OMS lançou uma comissão internacional sobre o problema, liderada pelo cirurgião-geral dos EUA, Dr. Vivek Murthy, que disse que a solidão é uma ameaça subestimada à saúde pública.
Por que os líderes empresariais devem abordar a questão da solidão?
De maneira geral, combater a solidão é uma estratégia inteligente para os negócios. Além de reduzir os riscos psicossociais do ponto de vista legal para os empregadores, a conexão entre os colaboradores está diretamente ligada ao aumento do engajamento, desempenho, satisfação no trabalho e sensação de realização.
Conexões profundas e baseadas na confiança também estão associadas a uma maior segurança psicológica e desempenho das equipes, impulsionando a colaboração, a inovação e a eficácia geral do time.
Do ponto de vista da saúde ocupacional, funcionários solitários tendem a adoecer com mais frequência, são menos resilientes e relatam níveis mais elevados de estresse e burnout.
Vale destacar que, embora a solidão no local de trabalho possa reduzir a produtividade, algumas pesquisas indicam que a solitude e a autonomia no trabalho podem transformar o impacto negativo da solidão em um catalisador para o aumento do desempenho organizacional.
Como os líderes podem enfrentar com a solidão no local de trabalho?
A Harvard Business Review delineou recentemente soluções surpreendentemente simples e intuitivas que são as mais eficazes para aliviar a solidão no local de trabalho, incluindo almoços comunitários gratuitos, reuniões dedicadas a conversas pessoais e eventos sociais. Essas iniciativas funcionam como espaços para que a conexão humana e o sentimento de pertencimento se estabeleçam. Embora possam, em alguns casos, parecer artificiais, os benefícios superam o possível ceticismo.
Ao abordar a solidão, é essencial implementar intervenções sob medida, considerando o contexto cultural e o ambiente organizacional.
Abordar o isolamento em ambientes de linha de frente, de alto risco e com turnos requer uma abordagem distinta da aplicada aos trabalhadores de escritório. Em grandes projetos de capital e operações, por exemplo, o foco pode ser em medidas práticas, como garantir que as mesmas equipes trabalhem nos mesmos turnos, facilitando a criação de vínculos pessoais. A disponibilidade constante de uma boa conexão Wi-Fi, bem como a implementação de atividades como quadros de dardos nas cantinas, pode fomentar a interação social e o companheirismo.
Independentemente do setor ou do tipo de trabalho, os gestores devem ser modelos de comportamento inclusivo: ouvir atentamente, buscar pontos em comum para fortalecer a conexão com a equipe e incentivar o desenvolvimento dos colaboradores com palavras de apoio. O cuidado genuíno e a curiosidade podem parecer simples, mas fazem uma grande diferença para quem recebe, promovendo um verdadeiro sentimento de conexão.
Que conselho você daria aos líderes, em termos de seu próprio risco potencial de solidão?
Muitas vezes, a liderança pode ser solitária. Cuide de si mesmo – às vezes, é fundamental colocar a própria "máscara de oxigênio" antes de poder ajudar os outros.
Recentemente, encontrei um cenário envolvendo um executivo sênior em risco, se sentido excluído, solitário e fracassando. Embora em diferentes contextos, situações como essa não são incomuns em todos os setores.
Em uma organização multinacional, um chefe de divisão respeitado deixou o cargo inesperadamente. Sob o apoio do CEO, uma nova líder foi designada, em parte como uma missão de desenvolvimento. No entanto, a equipe de gestão não compreendeu o motivo de sua nomeação, especialmente porque dois membros do time aspiravam ao cargo. Como resultado, a equipe se fechou. Os esforços da nova líder para se conectar foram desconfortáveis e, eventualmente, fracassaram. Ela se sentiu isolada e excluída. A missão exigia uma mudança de local, dificultando o apoio da família e criando fraturas em seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Isso gerava o risco de um ciclo vicioso e do colapso da equipe de gestão. A autoconfiança da nova líder começou a se fragilizar, e os outros membros da equipe perceberam sua crescente sensação de isolamento.
O gerente de RH interveio, organizando uma série de reuniões individuais bem estruturadas, seguidas por encontros com a equipe toda. O CEO participou para explicar sua decisão e pediu desculpas pela falta de uma explicação inicial. Um dos membros da equipe de liderança seguiu outro caminho, e os demais aceitaram a decisão. Com isso, a compreensão e o espírito de colaboração aumentaram, e a situação foi revertida. A nova líder passou a se sentir incluída e conectada, e sua sensação de solidão desapareceu.
Para evitar esse tipo de situação, as conversas entre o CEO e a equipe de liderança deveriam ter acontecido previamente e de forma conjunta, esclarecendo a decisão sobre a nomeação. Uma série de discussões iniciais e sessões de feedback, conduzidas pelo gerente de RH ou por um especialista da empresa, teria facilitado o desenvolvimento de um propósito comum para a equipe. Além disso, uma conversa franca com a família da nova líder sobre os desafios de estar longe de casa teria sido fundamental, garantindo também tempo para chamadas de vídeo regulares com familiares e amigos. Reservar tempo para atividades físicas e hobbies também se revelou uma importante lição.
Obrigada por compartilhar esse cenário desafiador, que consigo compreender plenamente que não será algo incomum.
Como tudo isso se aplica a forças de trabalho transitórias, considerando que os funcionários estão mudando de empresa com mais frequência atualmente?
Há uma necessidade crescente de grupos que ultrapassem o ambiente de trabalho, especialmente em níveis mais seniores, já que a maior parte dos esforços é concentrada em promover coesão nos níveis iniciais de carreira e na gestão intermediária. Uma fórmula simples para qualquer grupo desse tipo seria:
Isso pode ser útil para replicação, dimensionamento e reflexão pessoal sobre como resolver a solidão. Os Grupos de Recursos de Funcionários (ERGs) são um bom exemplo de onde um interesse e propósito compartilhados, misturados com bate-papo pessoal e compartilhamento, geralmente resultam em conexão, confiança e ótimo trabalho.
Em relação a tudo o que foi dito acima, quero enfatizar novamente que as intervenções dependem muito do contexto cultural e às vezes erros são cometidos devido a mal-entendidos.
O que o futuro reserva para a The Human Network?
É interessante que a The Human Network tenha começado como uma forma de apoiar profissionais cujo trabalho é abordar questões como a solidão no local de trabalho e, no processo, construímos uma comunidade para esses próprios profissionais também. Então, estamos cumprindo nossa missão de comunidade, conexão e conversa. Nosso plano é continuar evoluindo como líderes de pensamento em torno de mudanças inovadoras na experiência humana no trabalho e além.
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